terça-feira, 20 de março de 2012

O Circo está desmontando


Não, meu caro brasileiro, você não está num país em ascensão. Você está comprando gato por lebre. Esse discurso maquiado de que somos a 6ª economia do mundo só serve para te manter saciado e imobilizado. Os 2,7% de crescimento que nos colocou neste ranking não chegam perto do que cresceu a média mundial, com 3,8% em 2011. Estamos dando passos largos para o buraco há pelo menos 10 anos, surfando nas ondas baixas do crescimento da econômico mundial, e comprando a imagem sem o dedo mindinho de um país que cresce, vendida por um marketing estruturado para enganar e calar. São 10 anos sem investimentos em infraestrutura. Não há malha viária, não há aeroportos de qualidade, não há portos que sustentam volumes de cargas para crescermos como devemos com as exportações. Não há saúde nem educação, piláres básicos para o desenvolvimento de qualquer país. Trabalhamos 5 meses só para pagar impostos.
O país está entrando em processo de desindustrialização. Somente na região metropolitana de Campinas, foram 650 demissões entre janeiro e fevereiro de 2012, segundo pesquisa da FACAMP. Empresas e indústrias estão fechando as portas por falta de competitividade, por excesso de tributação. É preciso reestruturar o país com reformas em todas, sim, todas as áreas que formam o custo Brasil, a começar por limpar aquilo que chamam de Congresso e todos os bandidos que se intitulam Excelentíssimos. Estão tapando o sol com a peneira e você, brasileiro, está ficando satisfeito com essa sombra cheia de furos, dizendo que assim está bom. Ou saímos do comodismo e lutamos pelas reformas tão necessárias ao país ou em breve estaremos afundados naquilo que nós mesmos nos omitimos em decidir e mudar. Vamos adiar até quando?!

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

"Toque Dela"

É instantâneo, basta dar play no novo álbum de Marcelo Camelo para remeter o pensamento àquela brisa leve batendo ao rosto num fim de tarde na praia. O frescor da voz do ex Los Hermanos toma conta dos ouvidos nessa 2ª obra solo. “Toque Dela” é um cd para dias de paz, e não melancólicos como seu 1° cd lançado em 2008, “Sou”.

São 10 faixas autorais e inéditas. Camelo mantém seu favoritismo pelos arranjos com metais bem elaborados, vezes intensos, oferecendo letras singelas e delicadas. “Toque Dela” tem ainda as participações do cartunista André Dahmer na música “Três Dias” e a do instrumentista Marcelo Jeneci.

O guitarrista e compositor carioca, que agora está na terra da garoa, não tem grande desempenho vocal, seu timbre é sereno, porém coeso e afinado. Faixa por faixa, o sentimento é de comoção e vontade de abrir um leve sorriso. Declarações de amor, saudade e o mar são presenças fortes nas letras, que oferece também uma pincelada na regionalização com a música “Despedida” feita para cantora Maria Rita, e que brinca com a música conhecida pela voz de Caetano Veloso, Marinheiro Só.

Camelo se intitula um músico eclético, que escuta de tudo, e diz que seu trabalho sempre estará na contramão do que todos estão fazendo. O fato é que ele conseguiu. “Toque Dela” é uma obra versátil e diferente de tudo o que os novos nomes da MPB estão produzindo. Vale a pena escutar.

TOQUE DELA – MARCELO CAMELO
1. A Noite
2. ô ô
3. Tudo Que Você Quiser
4. Acostumar
5. Três Dias
6. Pra Te Acalmar
7. Vermelho
8. Pretinha
9. Despedida
10. Meu Amor é teu

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Pulei no buraco de Alice



Não. Eu não pulei ali correndo atrás do coelho atrasado. Pulei porque achei que a queda livre poderia me causar alguma catarse, e sei que, em breve, me encontrarei com todas àquelas criaturas antropomórficas interessantes quando alcançar a segurança do chão. Mas o buraco parece ser profundo e a queda, pelo visto, será demorada. Sempre tive medo de grandes adrenalinas. Pulei neste buraco, mas não saltaria de paraquedas. Sou medrosa, prefiro as desventuras, as sensações seguras. Nunca gostei de parque de diversões nem de filmes de terror. Percebe como sou medrosa?! Mas pulei aqui neste buraco e estou em queda. Sinto-me desprotegida. É quase um parto. Cortaram-me o cordão umbilical novamente, ou eu mesma cortei?! Quero a sensação reconfortante do colo daquela que me gerou.
Por que não consigo me divertir com a sensação de quase voar?! Não relacionam isto com a grande sensação de liberdade?! Em trechos do buraco existem espelhos, mas eu não me reflito neles, vejo outras pessoas quando me olho. Onde estou eu nesses espelhos?! Quando brevemente consigo me ver, me vejo menina, dentes de leite. Ouço risadas ao longe?! Quem são e do que estão rindo?! Minha insegurança sugere que pode ser de mim. Será que estou caindo de jeito desengonçado?! Meu cabelo está bagunçado?! Mas qual a importância disso tudo aqui neste buraco?! Por que penso nisso em queda livre?! Quando por instantes consigo relaxar, sinto um prazer querendo me invadir, mas outros pensamentos tratam de ocupar o lugar desta sensação. Sinto vergonha de mim, dos outros.
Vou me entediando. Eu e a minha constante insatisfação quando uma expectativa não é cumprida. E justo agora o gato bizarro passa por mim com aquele sorriso debochado, crítico. Então começo a pensar como será assim que chegar lá no mundo fantástico descrito por Lewis Carrol. Quero uma análise com a lagarta e ao invés de chá, um bom porre ao lado do Chapeleiro Maluco e seus amigos. Penso no lá. Penso no que dizer a eles. Quero causar boa impressão. Quero que eles gostem de mim. Quem sabe não me convidam pra ficar. Não quero passar pela parte da Rainha e nem o “cortem a cabeça dela”, mas será possível me livrar desta parte desagradável?! É possível ficar somente com a parte boa da viagem?! Olha o gato de novo!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O dia em que ganhei um relicário da Sagrada Família


O relicário é um lugar feito para guardar algo precioso. Faz referência à relíquia. Mamãe tem feito artesanatos. Começou achando que aquelas pequenas caixinhas enfeitadas e adornadas com chita, fitinhas e santinhos, fossem pequenos oratórios, mas não, descobriu que são relicários. Longe de casa a mais de uma semana, na verdade a mais de seis meses, voltei para abraçar minha mãe numa circunstância não agradável pra ela, nem para mim nem para família. Ela, forte e carinhosa mesmo abalada com o diagnóstico deixou preparada, em cima da minha cama, várias peças que ela produziu. Ali estavam imãs de geladeira com personagens de cinema (que adoro), chaveiros personalizados também lindos, presilhas de cabelo e 3 relicários. Cada um com uma imagem sendo devidamente homenageada. Olhei para o que tinha então, a imagem de um homem, uma mulher e uma criança ao colo. Como não sou católica, nada sei sobre imagens ou santos. Mas aquele relicário em especial, me agradou. Quando encontrei minha mãe, no meio do abraço caloroso, do olhar pesaroso, mas motivador uma para outra dizendo: “vamos sair dessa”, ela perguntou se tinha escolhido meu presentinho. Disse então, que tinha escolhido aquele com 3 imagens. Ela disse: “A Sagrada Família?!"
-Hum, então chama-se a Sagrada Família. Bacana,eu disse.
Naquele mesmo dia a casa se encheu, visita atrás de visita. Família grande, que se solidariza em momentos difíceis. E então me peguei pensando: Como é importante este calor, este carinho, este afeto. Como é bom se conectar com gente da gente, o primo, a tia, a avó, a tia avó e saber que ali, todo mundo tem um laço mais que afetuoso é sanguíneo.
Voltei pra Campinas e coloquei meu relicário ali, em cima da escrivaninha, num lugar visível. Todos os dias antes de dormir olho para aquela peça de artesanato feita pela minha mãe e lembro como minha família é sagrada, é relíquia a ser guardada a sete chaves. Eles são parte de mim. São minhas memórias eternas e mais agradáveis. Tenho rezado olhando para aquele relicário. Peço ao meu Deus e a todos os espíritos de luz que protejam, iluminem e concedam saúde e paz a todos os que amo e principalmente a minha família querida. O dia em que ganhei meu relicário da sagrada família, não foi um bom dia. Mas mudou meus dias para melhor e me lembra como a minha é importante e fundamental.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Síndrome da Imaturidade Permanente acomete 8 entre 10 mulheres, diz pesquisa


Conhecido também por Vírus da Boçalidade, o mal acomete mulheres, com idade entre 15 e 30 anos, em sua maioria solteiras, inseguras e mal instruídas, com curso superior incompleto e empurrado com a barriga. Os dados são de pesquisa recém realizada e divulgada pelo “Instituto de Análises Comportamentais Imbecis” de Marte e comprova que 8 em cada 10 mulheres nesta idade, sofrem do mal. A pesquisa ainda revela que a síndrome é recente e vem sendo diagnosticada nos últimos 10 anos, resultado da massificação dos meios de comunicação 2.0, redes sociais e a falta de leitura.
Os principais sintomas da síndrome são: insegurança voraz,carência excessiva, erros de português na escrita e na fala, uso de gírias, o gosto por novelas e personagens do Zorra Total, presença constante em festas de rodeio e funk, uso abusivo de bebidas de quinta categoria pagas por terceiros, sexo a revelia praticado só para contar para as amigas como ela é desejada, repetição constante de frases como: “homem é tudo vagabundo” além de forte intolerância à diversidade.
De acordo com o idealizador da pesquisa, a síndrome também afeta o comportamento no trabalho caracterizando-se pelas constantes risadas fora de hora ou quando o líder lhe pede algo simples, a valorização excessiva de seu trabalho diário, a cara de bunda quando o mesmo líder lhe pede algo que esteja fora da descrição de seu cargo, irritabilidade causada pelo bloqueio do MSN no computador da empresa e constante discurso de que está cansada.
Para o médico e pisicanalista Freud Jr., se diagnosticada a tempo, a síndrome tem cura e deve ser tratada durante toda a vida com uso permanente de boa leitura e terapia. Em estágios avançados, detectados em sua maioria em mulheres próximas dos 30 anos, o médico diz ser necessário intensificar as doses de leitura e incluir ao tratamento sessões de apreciação de boa música e autocrítica.
“A síndrome da imaturidade permanente, entre outras doenças, são conhecidas como o mal do século e precisam ser tratadas, muitas vezes, durante toda a vida. Muitas pacientes demoram a aceitar que estão com a síndrome. O mais importante é, que assim que diagnosticada, a paciente procure um especialista,” finaliza Freud Jr.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Na quarta. O meio insosso da semana


Eles vieram de bicicleta. Juntos.
Ele de chapéu panamá, camisa de linho e cara de quem sabe todas de Chico Buarque.
Ela calça hippie, conga no pé, cabelo encaracolado e ar fresco.
Adoráveis, adentraram ao boteco com o ponto de ônibus atracado à sua porta.
Ali, as pessoas muito pouco chegam, elas quase sempre estão indo.
A cerveja desceu redonda no primeiro gole solitário, sem brinde.
As amigas estão no cinema. Chegam logo mais.
Ao fundo um som old times. Cantarolo e dou risada de pensar o que estão pensando desta mulher sentada sozinha num bar de confraternizações. Não que eu me importe com os julgamentos, só me divirto com os clichês pensados.

Chegam as amigas. “Matias, alivia que o Che Guevara tá entrando sem colete”. Reproduzo a fala do filme ao qual saíram extasiadas.
Sorriso largo.
Abraço apertado. Cerveja no copo. Brinde.
A mesa cresce. O papo fica eufórico.
Bebidas, mundo, relacionamentos, viagens, cotidiano, trabalho, vida. Risadas. E pronto, foram exorcizados os demônios. Tudo isso na quarta, o meio insosso da semana. No boteco. Com o ponto de ônibus atracado à sua porta.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

"Átame " A linha fina que amarra o amor ao absurdo


Não há um filme sequer na carreira do diretor e roteirista espanhol Almodóvar, que não dialogue com o espectador sobre questões profundas da existência humana. É possível navegar em mares turbulentos, profundos e desconhecidos de um cotidiano muitas vezes bizarro de seus personagens.
São histórias possíveis, pinceladas por detalhes a primeira vista insanos.

Átame, de 1990, mostra dois personagens de fragilidade antônima. De um lado, Marina Osório interpretada por Victoria Abril, vezes protagonista de filmes pornográficos, viciada em drogas, agora atuando em uma produção burlesca de 2º classe, num filme de terror. É uma mulher que frequentemente flerta com a voluptuosidade, perdida em sua identidade. Do outro, Rick (Antônio Banderas) recém saído de um sanatório, inebriado pela vontade incompreendida de viver um romance com a atriz, conhecida de seu passado. Ele idealiza Marina como sua esposa e mãe de seus filhos, uma figura sensível em busca da realização amorosa que nunca havia experimentado.

Ao se sentir rejeitado após uma visita aos estúdios onde Marina grava o triller, Rick rapta seu objeto de desejo, Marina, sucumbindo seus instintos de sobrevivência. Vidrado no propósito de convencê-la de que ele é o grande amor de sua vida, acredita na normalidade de constituir uma família com a atriz, mantendo-a atada a uma cama.

A trama aparentemente simples, nos faz refletir constantemente sobre a linha fina que amarra o amor ao absurdo. Sempre prestes a arrebentar, porém as vezes tão firme como uma muralha. E é neste paradigma que Marina se atira, para viver uma história de amor fulminante, cheia de descobertas e conflitos internos. Andando na corda bamba do amor/absurdo possível, aquele é o único que lhe parece verdadeiro.

O filme é classificado como drama. Ao meu ver, um romance singular, surpreendente e saboroso.

A trilha sonora é de ninguém menos que Ennio Morricone, arranjador, compositor e maestro italiano, criador de trilhas sonoras inesquecíveis como as dos clássicos “Era uma vez no oeste”e “Cinema Paradiso” e do recente “Bastardos Inglorius” de Tarantino. A trilha dá ao filme suas tonalidades de humor e tensão, paixão e loucura, todas misturadas e amarradas à cama, entre Rick e Marina.